sexta-feira, 3 de abril de 2009

Oxalá

Oxalá é o Orixá associado à criação do mundo e da espécie humana. Apresenta-se de duas maneiras: moço – chamado Oxaguian, identificado no jogo do merindilogun pelo odu ejionile, e velho – chamado Oxalufan pelo odu ofune representado materialmente e imaterial pelo candomblé, através do assentamento sagrado denominado igba oxala.

Os símbolos do primeiro é uma idá (espada), "mão de pilão" e escudo. O do segundo é uma espécie de cajado em metal, chamado ôpá xôrô.

A cor de Oxaguiam é o branco levemente mesclado com azul, a de Oxalufam é somente branco. O dia consagrado para ambos é a sexta-feira.

Sua saudação é ÈPA BÀBÁ ! Oxalá é considerado e cultuado como o maior e mais respeitado de todos os Orixás do panteão africano.

Simboliza a paz é o pai maior nas nações das religiões de tradição africana. É calmo, sereno, pacificador, é o criador, portanto respeitado por todos os Orixás e todas as nações. A Oxalá pertence os olhos que vêem tudo.

Arquétipo dos filhos de OXALÁ
As pessoas de Oxalá são calmas, responsáveis, reservadas e de muita confiança. Seus ideais são levados até o fim, mesmo que todas as pessoas sejam contrárias a suas opiniões e projetos. Gostam de dominar e liderar as pessoas. São muito dedicados, caprichosos, mantendo tudo sempre bonito, limpo, com beleza e carinho. Respeitam a todos mas exigem ser respeitados.

Oxalá - Lendas
Olodumaré entregou a Oxalá o saco da criação para que ele criasse o mundo. Porém essa missão não lhe dava o direito de deixar de cumprir algumas obrigações para outros Orixás e Exu, aos quais ele deveria fazer alguns sacrifícios e oferendas.

Oxalá pôs a caminho apoiado em um grande cajado, o Paxorô. No momento em que deveria ultrapassar a porta do Orun, encontrou-se com Exu que, descontente porque Oxalá se negara a fazer suas oferendas, resolveu vingar-se provocando em Oxalá uma sede intensa. Oxalá não teve outro recurso senão o de furar a casca de um tronco de um dendezeiro para saciar a sua sede.

Era o vinho de palma também conhecido como ("emu" e "oguro") o qual Oxalá bebeu intensamente, ficou bêbado, não sabia onde estava e caiu adormecido. Apareceu então Olófin Odùduà que vendo o grande Orixá adormecido roubou-lhe o saco da criação e em seguida foi a procura de Olodumaré, para mostrar o que teria achado e contar em que estado Oxalá se encontrava.

Olodumaré disse então que “se ele esta neste estado vá você a Odùduà, vá você criar o mundo”. Odùduà foi então em busca da criação e encontrou um universo de água, e aí deixou cair do saco o que estava dentro, era terra. Formou-se então um montinho que ultrapassou a superfície das águas.

Então ele colocou a galinha cujos pés tinham cinco garras. Ela começou a arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície da água, onde ciscava cobria a água, e a terra foi alargando cada vez mais, o que em Yoruba se diz Ile`nfê expressão que deu origem ao nome da cidade Ilê-Ifê.

Odùduà ali se estabeleceu, seguido pelos outros Orixás e tornou-se assim rei da terra.

Quando Oxalá acordou, não encontrou mais o saco da criação. Despeitado, procurou Olodumaré, que por sua vez proibiu-o, como castigo a Oxalá e toda sua família, de beber vinho de palma e de usar azeite de dendê. Mas como consolo lhe deu a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos nos quais ele, Olodumaré insuflaria a vida.

Oxalá

Um dia Oxalufam, que vivia com seu filho Oxaguiam, velho e curvado por sua idade avançada, resolveu viajar a Oyo em visita a Xangô, seu outro filho. Foi consultar um babalaô para saber acerca da viagem. O adivinho recomendou-lhe não seguir viagem. Ela seria desastrosa e acabaria mal.

Mesmo assim, Oxalufam, por teimosia, resolveu não renunciar à sua decisão. O adivinho aconselhou-o então a levar consigo três panos brancos, limo-da-costa ou sabão-da-costa, assim como a aceitar e fazer tudo que lhe pedissem no caminho e não reclamar de nada, acontecesse o que acontecesse. Seria uma forma de não perder a vida.

Em sua caminhada, Oxalufam encontrou Exú três vezes. Três vezes Exú solicitou ajuda ao velho rei para carregar seu fardo, que acabava derrubando em cima de Oxalufam. Três vezes Oxalufam ajudou Exú, carregando seus fardos imundos. E por três vezes Exú fez Oxalufam sujar-se de sal, azeite de dendê e carvão.

Três vezes Oxalufam ajudou Exú. Três vezes suportou calado as armadilhas de Exú. Três vezes foi Oxalufam ao rio mais próximo lavar-se e trocar suas vestes. Finalmente chegou a Oyó. Na entrada da cidade viu um cavalo perdido, que ele reconheceu como o cavalo que havia presenteado a Xangô.

Tentou amansar o animal para amarrá-lo e devolvê-lo ao filho. Mas neste momento chegaram alguns súditos do rei à procura do animal perdido. Viram Oxalufam com o cavalo e pensaram tratar-se do ladrão do animal. Maltrataram e prenderam Oxalufam. Ele, sempre calado, deixou-se levar prisioneiro.

Mas, por estar um inocente no cárcere, em terras do Senhor da Justiça, Oyó viveu por longos sete anos a mais profunda seca. As mulheres tornaram-se estéreis e muitas doenças assolaram o reino. Xangô desesperado, procurou um babalaô que consultou Ifá, descobrindo que um velho sofria injustamente como prisioneiro, pagando por um crime que não cometera.

Xangô correu para a prisão. Para seu espanto, o velho prisioneiro era seu pai Oxalufam. Xangô ordenou que trouxessem água do rio para lavar o rei. O rei de Oyó mandou seus súditos vestirem-se de branco. E que todos permanecessem em silêncio. Pois era preciso, respeitosamente, pedir perdão a Oxalufam. Xangô vestiu-se também de branco e encarregou Airá que o carregasse o velho rei nas costas. Levou-o para as festas em sua homenagem e todo o povo saudava Oxalá e todo o povo saudava Xangô. Depois Oxalufam voltou para casa levado por Airá e quando chegou seu filho Oxaguiam ofereceu um grande banquete em celebração pelo retorno do pai.

O arquétipo de personalidade dos devotos de Oxalá é aquele das pessoas calmas e dignas de confiança; das pessoas respeitáveis e reservadas, dotadas de força de vontade inquebrantável que nada pode influenciar. Em nenhuma circunstância modificam seus planos e seus projetos, mesmo a despeito das opiniões contrárias, racionais, que as alertam para as possíveis consequências desagradáveis dos seus atos. Tais pessoas, no entanto, sabem aceitar, sem reclamar, os resultados amargos daí decorrentes.

Obatalá, Osala, Osalufon, Osagiyan e Osa-Popo, todos eles denominados Òrìsà funfun (branco), devido à cor que os simboliza, a branca. Obatalá e Odudua são associados de diversas maneiras nos mitos da criação.

Bàbá Epe

Orixa Oko

Lejúgbè

Ajàgúnán

Òsàfuru

Elémòsó

AkajaPriku

Òsàìgbò

Indako

Bàbá Àjàlé

Orixa-Nlá

Obatalá

Odudua

Oxalufan

Oxaguian

Orixá okô

Em língua árabe, "wa xa illah", com o significado de "queira Deus", interjeição que exprime o desejo de que certa coisa suceda; tomara, queira Deus (in: Dicionário da Língua Portuguesa - Larousse Cultural).

Oxalá, Obatalá, Orixalá, Orixa-Nlá.

Oxalá é um nome genérico de vários Òrìxá funfun (branco), é como são chamados diversos Orixás africanos no Brasil relacionados com a cor branca e a criação do mundo.

Os filhos de Oxalá têm algumas restrições, Ewo, Quizila:

De acordo com as lendas Oxalá embriagou-se várias vezes com vinho de palma, tornando-se assim uma das restrições bebida alcoólica. Por causa de outra lenda, onde Exú suja suas roupas brancas por três vezes com sal, azeite de dendê e carvão, também se tornaram restrição aos filhos de Oxalá. Nenhuma comida de Oxalá leva sal ou dendê. Um filho de Oxalá jamais deverá usar roupas pretas ou vermelhas por serem as cores de Exú. Também em função das lendas, o dia de Oxalá é a sexta-feira, no Brasil e em outros países onde tem candomblé, todos os iniciados e frequentadores do candomblé costumam vestir-se de branco em homenagem a Oxalá. Os filhos de Oxalá não comem comida de sal e muitos adotaram não comer carne na sexta-feira, só comem peixe. Mas acredita-se que esse costume tenha relação com a Igreja Católica e o sincretismo de Oxalá com o Senhor do Bonfim na Bahia, costume também adotado pelos restaurantes onde nas sexta-feiras servem a pescada branca com molho de camarão.

Oxalufã era o rei de Ilu-ayê, a terra dos ancestrais, na longínqua África. Ele estava muito velho, curvado pela idade e andava com dificuldade, apoiado num grande cajado, chamado opaxorô.

Um dia, Oxalufã decidiu viajar em visita a seu velho amigo Xangô, rei de Oyó. Antes de partir, Oxalufã consultou um babalaô, o adivinho, perguntando-lhe se tudo ia correr bem e se a viagem seria feliz. O babalaô respondeu-lhe: "Não faça esta viagem. Ela será cheia de incidentes desagradáveis e acabará mal."

Mas Oxalufã tinha um temperamento obstinado, quando fazia um projeto, nunca renunciava. Disse então ao babalaô: "Decidi fazer esta viagem e eu a farei, aconteça o que acontecer!"

Oxalufã perguntou ainda ao babalaô, se oferendas e sacrifícios melhorariam as coisas. Este respondeu-lhe: "Qualquer que sejam suas oferendas, a viagem será desastrosa." E fez-lhe ainda algumas recomendações: "Se você não quiser perder a vida durante a viagem, deverá aceitar fazer tudo que lhe pedirem. Você não deverá queixar-se das tristes consequências que advirão. Será necessário que você leve três panos brancos. Será necessário que você leve, também, sabão e limo da costa."

Oxalufã partiu, então, lentamente, apoiado no seu opaxorô. Ao cabo de algum tempo, ele encontra Exu Elepô, Exu "dono do azeite de dendê". Exu estava sentado à beira da estrada, com um grande pote cheio de dendê.

"Ah! Bom dia Oxalufã, como vai a família?"

"Oh! Bom dia Exu Elepô, como vai também a sua?"

"Ah! Oxalufã, ajude-me a colocar este pote no ombro."

"Sim Exu, sim, sim, com prazer e logo."

Mas de repente, Exu Elepô virou o pote sobre Oxalufã. Oxalufã ficou coberto de azeite e seu pano inutilizável. Exu, contente do seu golpe, aplaudia e dava gargalhadas. Oxalufã, seguindo os conselhos do babalaô, ficou calmo e nada reclamou. Foi limpar-se no rio mais próximo. Passou o limo da costa sobre o corpo e vestiu-se com um novo pano; aquele que usava ficou perto do rio, como oferenda.

Oxalufã retomou a estrada, andando com lentidão, apoiado no seu opaxorô. Duas vezes mais ele encontrou-se com Exu. Uma vez, com Exu Onidú, Exu "dono do carvão"; Outra vez, com Exu Aladi, "dono do óleo do caroço de dendê". Duas vezes mais, Oxalufã foi vítima das armadilhas de Exu, ambas semelhantes à primeira. Duas vezes mais, Oxalufã sujeitou-se às consequências. Exu divertiu-se às custas dele, sem que conseguisse, contudo, tirar-lhe a calma.

Oxalufã trocou, assim, seus últimos panos, deixando na margem do rio os que usava, como oferenda. E continuou corajosamente seu caminho, apoiado em seu opaxorô, até que passou a fronteira do reino de seu amigo Xangô.

Kawo Kabiyesi, Xangô Alafin Oyó, Alayeluwa! "Saudemos Xangô, Senhor do Palácio de Oyó, Senhor do Mundo!"

Logo, Oxalufã viu um cavalo perdido que pertencia a Xangô. Ele conhecia o animal, pois havia sido ele que, há tempos, lhe oferecera. Oxalufã tentou amansar o cavalo, mostrando-lhe uma espiga de milho, para amarrá-lo e devolvê-lo a Xangô. Neste instante, chegaram correndo os servidores do palácio. Eles estavam perseguindo o animal e gritaram: "Olhem o ladrão de cavalo! Miserável, imprestável, amigo do bem alheio! Como os tempos mudaram; roubar com esta idade!! Não há mais anciãos respeitáveis! Quem diria? Quem acreditaria?"

Caíram todos sobre Oxalufã, cobrindo-o de pancadas. Eles o agarraram e arrastaram-no até a prisão. Oxalufã, lembrando-se das recomendações do babalaô, permaneceu quieto e nada disse. Ele não podia queixar-se, mas podia vingar-se. Usou então seus poderes, do fundo da prisão. Não choveu mais, a colheita estava comprometida, o gado dizimado; as mulheres estéreis, as pessoas eram vitimadas por doenças terríveis. Durante sete anos, o reino de Xangô foi devastado.

Xangô, por sua vez, consultou um babalaô, para saber a razão de toda esta desgraça. "Kabiyesi Xangô," respondeu-lhe o babalaô, tudo isto é consequência de um ato lastimável. Um velho sofre, injustamente, preso há sete anos. Ele nunca se queixou, mas não pense no entanto... Eis a fonte de todas as desgraças!"

Xangô fez vir diante dele o tal ancião. "Ah! Mas vejam só!" - gritou Xangô. "É você, Oxalufã! Êpa Baba! Exe ê!!

Absurdo! É inacreditável, vergonhoso, imperdoável!!! Ah! Você, Oxalufã, na prisão! Êpa Baba!! Não posso acreditar e, ainda por cima, preso por meus próprios servidores!

Hei! Todos vocês! Meus generais! Meus cavaleiros, meus eunucos, meus músicos! Meus mensageiros e chefes de cavalaria! Meus caçadores! Minhas mulheres, as ayabás!

Hei! Povo de Oyó! Todos e todas, vesti-vos de branco em respeito ao rei que veste branco!

Todos e todas, guardai o silêncio em sinal de arrependimento!

Todos e todas vão buscar água no rio! É preciso lavar Oxalufã!

Êpa Baba! Êpa, Êpa!

É preciso que ele nos perdoe a ofensa que lhe foi feita!!!

Este episódio da vida de Oxalufã é comemorado, a cada ano, em todos os terreiros de candomblé da Bahia, no dia da "Água de Oxalá" - quando todo mundo veste-se de branco e vai buscar água em silêncio, para lavar os axés, objetos sagrados de Oxalá.

Também, com a mesma intenção, todos os anos, numa quinta-feira, uma multidão lava o chão da basílica dedicada ao Senhor do Bonfim, e seus descendentes de hoje, é Oxalufã.

Êpa, Êpa, Baba!!!

Oxaguian é Oxalá moço. Sempre de branco. Usa espada, escudo e mão de pilão. Guerreiro, seu dia da semana é sexta-feira. Come cabra, e é o dono do inhame.


OXAGUIÃ

Exê êêê

Oxaguiã era o filho de Oxalufã.

Ele nasceu em Ifé, bem antes de seu pai tornar-se o rei de Ifan.

Oxaguiã, valente guerreiro, desejou, por sua vez, conquistar um reino.

Partiu, acompanhado de seu amigo Awoledjê.

Oxaguiã não tinha ainda este nome. Chegou num lugar chamado Ejigbô e aí tornou-se Elejigbô (Rei de Ejigbô). Oxaguiã tinha uma grande paixão por inhame pilado, comida que os iorubás chamam iyan. Elejigbô comia deste iyan a todo momento; comia de manhã, ao meio-dia e depois da sesta; comia no jantar e até mesmo durante a noite, se sentisse fazio seu estômago! Ele recusava qualquer outra comida, era sempre iyan que devia ser-lhe servido.

Chegou ao ponto de inventar o pilão para que fosse preparado seu prato predileto! Impressionados pela sua mania, os outros orixás deram-lhe um cognome: Oxaguiã, que significa "Orixá-comedor-de-inhame-pilado", e assim passou a ser chamado.

Awoledjê, seu companheiro, era babalaô, um grande advinho, que o aconselhava no que devia ou não fazer. Certa ocasião, Awoledjê aconselhou a Oxaguiã oferecer: dois ratos de tamanho médio; dois peixes, que nadassem majestosamente; duas galinhas, cujo fígado fosse bem grande; duas cabras, cujo leite fosse abundante; duas cestas de caramujos e muitos panos brancos. Disse-lhe, ainda, que se ele seguisse seus conselhos, Ejigbô, que era então um pequeno vilarejo dentro da floresta, tornar-se-ia, muito em breve, uma cidade grande e poderosa e povoada de muitos habitantes.

Depois disso Awoledjê partiu em viagem a outros lugares. Ejigbô tornou-se uma grande cidade, como previra Awoledjê. Ela era arrodeada de muralhas com fossos profundos, as portas fortificadas e guardas armados vigiavam suas entradas e saídas.

Havia um grande mercado, em frente ao palácio, que atraía, de muito longe, compradores e vendedores de mercadorias e escravos. Elejigbô vivia com pompa entre suas mulheres e servidores. Músicos cantavam seus louvores. Quando falava-se dele, não se usava seu nome jamais, pois seria falta de respeito. Era a expressão Kabiyesi, isto é, Sua Majestade, que deveria ser empregada.

Ao cabo de alguns anos, Awoledjê voltou. Ele desconhecia, ainda, o novo esplendor de seu amigo. Chegando diante dos guardas, na entrada do palácio, Awoledjê pediu, familiarmente, notícias do "Comedor-de-inhame-pilado". Chocados pela insolência do forasteiro, os guardas gritaram: "Que ultraje falar desta maneira de Kabiyesi! Que impertinência! Que falta de respeito!" E caíram sobre ele dando-lhe pauladas e cruelmente jogaram-no na cadeia.

Awoledjê, mortificado pelos maus tratos, decidiu vingar-se, utilizando sua magia. Durante sete anos a chuva não caiu sobre Ejigbô, as mulheres não tiveram mais filhos e os cavalos do rei não tinham pasto. Elejigbô, desesperado, consultou um babalaô para remediar esta triste situação. "Kabiyesi, toda esta infelicidade é consequência da injusta prisão de um dos meus confrades! É preciso soltá-lo, Kabiyesi! É preciso obter o seu perdão!"

Awoledjê foi solto e, cheio de ressentimento, foi-se esconder no fundo da mata. Elejigbô, apesar de rei tão importante, teve que ir suplicar-lhe que esquecesse os maus tratos sofridos e o perdoasse.

"Muito bem! - respondeu-lhe. Eu permito que a chuva caia de novo, Oxaguiã, mas tem uma condição: Cada ano, por ocasião de sua festa, será necessário que você envie muita gente à floresta, cortar trezentos feixes de varetas. Os habitantes de Ejigbô, divididos em dois campos, deverão golpear-se, uns aos outros, até que estas varetas estejam gastas ou quebrem-se".

Desde então, todos os anos, no fim da sêca, os habitantes de dois bairros de Ejigbô, aqueles de Ixalê Oxolô e aqueles de Okê Mapô, batem-se todo um dia, em sinal de contrição e na esperança de verem, novamente, a chuva cair.

A lembrança deste costume conservou-se através dos tempos e permanece viva, tanbém, na Bahia.

Por ocasião das cerimônias em louvor a Oxaguiã, as pessoas batem-se umas nas outras, com leves golpes de vareta... e recebem, em seguida, uma porção de inhame pilado, enquanto Oxaguiã vem dançar com energia, trazendo uma mão de pilão, símbolo das preferências gastronômicas do Orixá "Comedor-de-inhame-pilado."

Exê ê! Baba Exê ê!

As Águas de Oxalá é uma festa anual em homenagem a Oxalá, no Ilê Opó Afonjá é descrita sem detalhes por Mestre Didi: Os filhos do Axé, trajados de branco, saem em silêncio do terreiro, em procissão, carregando potes e moringas, tendo à frente a Iyalorixá tocando o seu ajá.

No tempo de Mãe Senhora, dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro. Hoje, essa obrigação é feita dentro do próprio terreiro.

Esta festa trata-se de um ato de respeito, um pedido de perdão pelas injustiças ocorridas com Oxalá em sua visita ao Reino de seu filho Xangô (Ver a lenda da viagem de Oxalá ao reino de Xangô, em Ayrà).

Na parte externa é feita uma caminhada pelas ruas de Salvador até Igreja do Senhor do Bonfim, esta grande homenagem é iniciada através de vários rituais iniciados no ano anterior e concretizados no mês de janeiro através da lavagem das escadas da Igreja em homenagem ao Pai Oxalá, chamada de Lavagem do Bonfim.

Não se pode esquecer que a lavagem das escadarias é um ritual criado pelo sincretismo religioso forçosamente adotado pelos escravos para ocultar seus orixás dos senhores de engenho e que oxalá nada tem a ver com Jesus Cristo sendo então duas divindades de religiões distintas.

Oxalá, na Umbanda representa o Orixá associado à criação do mundo e da espécie humana. Apresenta-se de duas maneiras: moço – chamado Oxaguiam, e velho – chamado Oxalufam.

O símbolo do primeiro é uma idá (espada), o do segundo é uma espécie de cajado em metal, chamado ôpá xôrô.

A cor de Oxaguiam é o branco levemente mesclado com azul, do de Oxalufam é somente branco. O dia consagrado para ambos é a sexta-feira.

Sua saudação é ÈPA BÀBÁ ! Oxalá é considerado e cultuado como o maior e mais respeitado de todos os Orixás do Panteão Africano.

Simboliza a paz é o pai maior nas nossas nações na Religião Africana. É calmo, sereno, pacificador, é o criador, portanto respeitado por todos os Orixás e todas as nações. A Oxalá pertence os olhos que vêem tudo.

Oxalá seja na Umbanda ou no Candomblé é o mesmo Orixá. O que muda da Umbanda para o Candomblé em relação aos Orixás é a forma de manifestação (incorporação), trato, simbolos e assentamentos, vestimentas, imagens etc. Porém, a essência do Orixá é a mesma.

Em algumas formas de Umbanda Oxalá é sincretizado com Jesus Cristo. Esse sincretismo é uma herança do aculturamento sofridos pelos negros ao longo do período colonial. Uma associação ora forçada pelos Jesuítas na imposição da fé Cristã, ora um símbolo de resistência onde da imagem do Santo Católico, se cultuava os Orixás africanos (por isso as datas dos festejos dos Orixás, coincidem com as dos Santos Católicos).

A imposição e a própria resistência acabaram virando práticas populares. As imagens dos Santos Católicos se confundiram com as dos Orixás, não se sabendo onde começa um, e onde termina o outro. Porém, dentro do terreiro, ao som dos atabaques, pode até ter a imagem dos Santos, mas quem incorpora são os Orixás. Podem cantar pontos onde se escuta o nome de São Jorge, por exemplo, mas quem monta no "cavalo" é Ogum.

Hoje em dia muitos terreiros estão deixando as imagens Católicas e cultuando os Orixás baseados em seus elementos, tais como: águas de Oxum, Ferro de Ogum, Otá (pedra) de Xangô. Ou utilizando-se de assentamentos, onde ali é colocada uma parte da essência do médium e parte da essência do Orixá.

Trono natural da Fé, primeira razão do movimento do Universo, campo de atuação primeiro regendo a religiosidade dos seres, ou a crença que têm para o positivismo. De natureza elemental cristalina, cuja presença se encontra em todos as outras vibrações de ordem divina como base. Dos textos antigos já se tem o nome Cristo como cristal, ou cristalino, e essa referência de todos os mestres da luz que vieram à nascer na matéria para guiar a humanidade. Suas ondas magnetizadoras despertam a ética nos seres, ou seja a base das religiões, algumas dessas ondas chegam até os nossos olhos cruzadas o que tornou o símbolo da cruz aquele a ser deixado como referência pelo nosso Mestre Cristo.

Porque Oxalá usa Ekodidé?

Muito tempo depois que Oduduwa chegou em Ilê Ifé e começaram a adorar o culto das Águas de Oxalá, aconteceu que, logo no primeiro ano, quando estava perto das festas Oxalá escolheu uma senhora das mais velhas do terreiro, chamada Omon Oxum, para tomar conta de todo, ou melhor, de tôda sua roupa, adornos e apetrechos, depositando com tôda benevolência nas mãos dela aquele direito especial para tomar conta de tudo que lhe pertencesse, da corôa ao sapato. Omon Oxum por nunca ter tido nenhum filho, criava uma menina. Dessa data em diante ela e a menina ficaram sendo odiadas por algumas pessoas que faziam parte nesse terreiro e que por inveja de Omon Oxum começaram a tramar novidades, procurando um meio qualquer para fazer Oxalá se zangar com ela e tomar o "achê" entregue por Oxalá. Fizeram coisas que Deus duvida contra Omon Oxum porém nada surtia efeito. Cada vez mais Oxalá ia aumentando a amisade e dedicação para Omon Oxum. Ela era muito devotada ao cumprimento das suas obrigações e não dava margem alguma para ser por êle repreendida.

Como dizem que a água dá na pedra até que fura, aconteceu que, na vespera do dia da festa, as invejosas, já desiludidas por poderem fazer o que desejavam, de passagem pela casa de Omon Oxum se depararam com a corôa de Oxalá que ela tinha areiado e colocado no sol para secar. Quando elas viram a corôa de Oxalá muito bonita e mais reluzente do que nunca, combinaram roubar a corôa e ir jogar no fundo do mar. E assim fizeram.

Quando Omon Oxum foi apanhar a corôa para guardar, não encontrou. Ficou doida. Procura daquí procura dalí, remexeram com tudo procurando em todos os cantos da casa e nada da corôa aparecer. As invejosas vendo a aflição que estava passando Omon Oxum e sua filhinha, satisfeitas pelo mal que tinham causado, riam as gaiofadas dizendo: agora sim quero ver como ela vai se atá com Oxalá amanhã quando êle procurar a corôa e não encontrar. A essa altura Omon Oxum comretamente azurantada só pensava em se matar e ja estava resolvida a fazer isso para não passar vergonha perante Oxalá. Foi quando a meninazinha, sua filha de criação disse: - Mamãe, porque a senhora não vai na feira amanhã de manhã bem cedinho e não compra o peixe mais bonito que tiver lá? A corôa de Oxalá deve estar na barriga desse peixe. E assim a menina insistiu, insistiu tanto, até que Omon Oxum se decidiu a aceitar o que a menina aconselhou, dizendo:- Fique tanquila minha filha, porque de madrugadasinha eu vou acordar para ir à feira ver se encontro com esse peixe que voce imagina ter a corôa do nosso Rei Oxalá na barriga.

A menina foi dormir tranquila. Omon Oxum coitada, não pôde dormir tôda a noite preocupada que já amanhecesse o dia para ela ir a feira ver se conseguia encontrar o dito peixe que a menina julgava ter a corôa na barriga.

Quando o dia mal tinha clareado, Omon Oxum pulou da cama, se preparou e lá se foi. Quando ela chegou na feira foi diretamente no mercado de peixe e não encontrou nenhuma escama. Ainda éra muito cedo. Omon Oxum deu uma volta pela feira e já bastante impaciente voltou ao mercado onde encontrou um senhor vendendo um peixe, cujo peixe, era o único que se encontrava no mercado. Omon Oxum comprou o peixe e foi voando para casa a fim de destrincha-lo. Queria ver se sua filha tinha aconselhado bem, para ela poder obter a paz e tranquilidade espiritual, encontrando a corôa de Oxalá. Assim que ela chegou em casa foi logo para a cosinha para abrir a barriga do peixe. Porém não conseguiu. Quando ela estava aí se acabando de chorar e labutando para abrir a barriga do peixe, a menina acordou e foi logo perguntando: - Mamãe já comprou o peixe? A senhora deixa que eu abra a barriga dele? - Omon Oxum bastante chorosa respondeu:- Minha filha a barriga dele está muito dura. Eu não posso abrir quanto mais você.

A menina se levantou, chegou na cosinha, apanhou um cacumbú e puxou rasgando a barriga do peixe, ésta se abriu em bandas deixando aparecer a corôa de Oxalá ainda mais bonita do que era antes. Omon Oxum se abraçou com a menina e de tanto contentamento não sabia o que fazer com ela. Carregava, beijava, dansava, e por fim Omon Oxum olhando para a menina e em seguida voltando as vistas para o céu, disse: - Olorun, Deus que lhe abençoe. Sua maesinha está sendo perseguida, porém com a fé que tem no seu Eledá, anjo da guarda, não ha de ser vencida. Limparam muito bem limpa, a corôa, e guardaram, muito bem guardada, juntamente com o resto das coisas pertencentes a Oxalá. Em seguida Omon Oxum cosinhou o peixe, fez um grande almôço e convidou a todos da casa para almoçar com ela dizendo que estava festejando o dia da festa do Pai Oxalá.

Ao meio dia Omon Oxum juntamente com seu, quero dizer, sua filhinha serviram o almôço acompanhado de Aluá ou Aruá, a bebida predileta de Oxalá a qual os Erê dão o nome de mijo do pai. Depois do almôço todos foram descansar para na hora determinada dar começo a festa das Águas de Oxalá.

As invejosas quando viram todo aquele movimento, Omon Oxum muito alegre como se nada tivesse acontecido a ponto de dar até um banquete em homenagem a Festa de Oxalá, ficaram malucas. Uma delas perguntou:- Será que ela encontrou a corôa? - Outra respondeu:- Eu bem disse que queimasse. - E a outra mais danada ainda dizia:- Eu disse a vicês que o melhor era cavar um buraco bem fundo e enterrar. - A primeira procurando acalmar os animos, disse para a outra:- Vamos esperar até a hora que éla apresentar as roupas de Oxalá com todos os armamentos. Se a corôa estiver no meio o geito que temos é fazer um grande ebó e colocar na cadeira onde éla vai se sentar ao lado de Oxalá. - O ebó, sacrificio, póde ser empregado para o bem ou para o mal.

Quando estava perto da hora de começar a festa, Omon Oxum apresentou a Oxalá tôda a roupa com todos os armamentos deixando as invejosas mais danadas e com mais desejo de vingança, a ponto de procurarem fazer o ebó por elas idealisado e colocar na cadeira onde Omon Oxum era obrigada a sentar-se por ordem de Oxalá.

Começou a festa com a maior alegria possivel. Oxalá chegou acompanhado por Omon Oxum e se sentou no trono. Omon Oxum sem saber do que estava sendo feito contra ela, também se sentou na sua cadeira ao lado de Oxalá. Quando começaram as cerimônias e que Oxalá precisou de colocar a sua corôa, virou-se para Omon Oxum e pediu para éla ir apanhar a corôa. Omon Oxum quiz levantar e não pôde. Fez força para um lado, para o outro, e nada de poder levantar-se, até quando éla decidiu levantar-se de qualquer maneira. Devido a grande dor que sentiu, olhou para a cadeira e viu que estava tôda suja de sangue. Alucinada de dor, e horrorisada por saber que Oxalá de fórma nenhuma podia ter nada de vermelho perto dêle porque era ewó, proibição, saiu esbaforida pela porta afora, indo se esbarrar na casa de Exú.

Quando Exú abriu a porta que viu Omon Oxum tôda suja de vermelho, disse:- Você vindo dêsse geito da casa de meu pai? Infringiu o regulamento e eu não posso lhe abrigar,- e fechou a porta.

Daí ela foi para a casa de Ogun, Oxossi, de todos Orixás e sempre diziam a mesma coisa que disse Exú. Só restava a casa de Oxum. Quando Omon Oxum chegou a casa de Oxum, esta já tinha sabido do que estava acontecendo e estava a sua espera. Omon Oxum se jogando nos pés dela disse:- Minha mãe me valha, estou perdida. Oxalá não vai me querer mais em sua casa.

Oxum disse para ela que não se preocupasse, que um dia Oxalá ía buscar ela de volta. Depois Oxum, usando de sua magia, fez com que, do lugar onde sangrava em Omon Oxum saisse Ekodide, pena vermelha de papagaio da costa, até quando sare a ferida. Oxum, depois de colocar todo aquêle Ekodidé numa grande igbá, cuia, reuniu todo seu pessoal e tôdas as noites faziam um xirê, festa, cantando assim:

BI O TA LADÊ

BI O TA LADÊ

IRÚ MALÉ

IYA OMIN TA LADÊ

OTO RU ÉFAN KOBÁJA OBIRIN

IYA OMIN TA LADÊ

E assim Oxum ricamente vestida, sentada no seu trono, com Omon Oxum ao seu lado, a cuia de Ekodidés e a vasilha para colocarem dinheiro em frente a elas, recebia as visitas de todos os Orixás que iam até lá para ver e saber porque Oxum estava fazendo aquela festa tôdas as noites. Todos que lá chegavam e se enteiravam do acontecimento, si era homem dava dodóbálé, se estirava de peito no chão para Oxum, depois apanhava um Ekodidé e colocava uma certa quantia na vasilha que estava ao lado para ser colocado o dinheiro, e se era mulher dava iká, quer dizer, se deitava no chão de um lado e do outro para Oxum e em seguida apanhava um Ekodidé e colocava também o dinheiro na referida vasilha.

Tudo aquilo que estava acontecendo no palácio de Oxum, ficou sendo muito propalado e as invejosas faziam todo possivel para que Oxalá não soubesse. Um dia, elas, sem observarem que Oxalá estava por perto, começaram a comentar o caso, onde uma delas disse:- Com ela não tem quem possa, depois de tudo o que nós fizemos, depois de ter acontecido o que aconteceu aqui no palácio de Oxalá e de ter sido enjeitada por todos Orixás, vocês não estão vendo que Oxum abrigou ela? Curou, conseguindo que do lugar que sangrava saisse Ekodidé, fazendo uma grande fortuna e aumentando a sua riqueza. Agora só nos resta é fazer com que o velho não saiba do que está acontecendo no palácio de Oxum, se não é bem capaz de querer ir até lá.

Nisso o velho Oxalá pigarreou dando a entender que tinha ouvido tôda a conversação. Ordenou a elas que procurassem saber a hora que começava o xirê no palácio de Oxum e que elas iam servir de companhia para êle poder ir apreciar o xirê e tomar conhecimento do que estava acontecendo.

Quando elas ouviram Oxalá falar desta maneira bem pertinho delas a terra lhe faltaram nos pés e o remorso montou nos seus cangótes fazendo com que elas fugissem para nunca mais voltar ao palácio de Oxalá.

A noite, depois do jantar, Oxalá cansado de esperar pelas tres invejosas e não vendo nenhuma delas aparecer, disse:- Fugiram com medo de que eu castigasse pela grande injustiça que cometeram, não sabendo de que o castigo será dado pelas mesmas.

Assim Oxalá se dirigiu para o palácio de Oxum afim de assistir o xirê e saber qual a causa do mesmo. Quando Oxalá chegou no palácio de Oxum mandou anunciar a sua chegada. Oxum mais bonita do que nunca, coberta de ouro e muitas jóias dos pés a cabeça, sentada no seu rico trono, mandou que Oxalá entrasse, e continuou o xirê cantando: BI O TA LADÊ, BI O TA LADÊ, IRÚ MALÊ, IYA OMIN TA LADÊ.

Quando Oxalá entrou ficou abismado de ver tanta riquesa e quando reparou bem para Oxum, que viu a seu lado Omon Oxum, a pessoa que cuidava dele e de tôdas suas coisas, a quem ele julgava ter perdido devido o que tinha acontecido, não se conteve, se jogou também no chão dando dodóbálé para Oxum, apanhando um Ekodidé e colocando bastante dinheiro na vasilha. Oxum quando viu o velho dar dodóbálé para ela, se levantou cantando:

DÓDÓ FIN DODÓBÁLÉ

KÓ BINRIN

IYA OMIN TA LADÊ

e foi ajudar a Oxalá se levantar do chão. Depois que Oxalá se levantou Oxum pegou Omon Oxum pela mão e entregou à Oxalá dizendo:- Aqui está a vossa zeladora, sã e salva de todo mal que desejaram e fizeram para ela para que ela ficasse odiada por vós. Oxalá agradecendo a Oxum disse:- Oxum, em agradecimento a tudo o que fizestes de bem e para amenisar os sofrimentos de Omon Oxum eu, Oxalá, prometo levar ela de volta para o meu palácio e de hoje em diante nunca hei de me separar desta pena vermelha que é o Ekodidé e que será o unico sinal desta côr que carregarei sôbre o meu corpo.

FIM

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